INFORMAÇÃO E LUTA
Alta nos casos de violência contra mulher mobiliza pesquisas de alunas da Toledo Prudente
Trabalhos visam amparar e auxiliar as vítimas sobre direitos e medidas protetivas.
Mariane Peres
05/07/2021
Não
é de hoje a luta no combate da violência contra a mulher. Só para se ter uma
ideia, diariamente no país são registrados, em média, 730 casos de lesão
corporal dolosa enquadrados na Lei Maria da Penha. Isso, sem contar a violência
psicológica, sexual, virtual entre outras. Achou muito? Infelizmente, tem mais!
A cada 30 minutos, uma mulher é vítima de estupro no Brasil. Mesmo com dados
assustadores, nem todas as pessoas têm ciência dessa realidade.
Com
o intuito de salvar vidas por meio da informação, alunas da Toledo Prudente têm
realizado pesquisas sobre o tema, com a explanação de direitos e métodos para
denúncia e busca por ajuda.
Desde
o início da graduação, Isabela Monteiro, estudante do 10º termo de Direito do
Centro Universitário, manteve seu foco no auxílio às mulheres e, durante suas
pesquisas, números tão expressivos a motivaram a um estudo minucioso.
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“O
primeiro dado relevante foi o assédio sexual em ambiente de trabalho. De acordo
com uma pesquisa publicada em outubro do ano passado, realizada com 381
mulheres, apontou que 47% já tinham sofrido assédio em seus empregos. Além
disso, no primeiro mês da pandemia do novo coronavírus, em 2020, houve o
aumento de 9% nos registros de casos de violência contra a mulher”, explica a
aluna.
Para
Isabela, que desenvolveu a pesquisa sob o título “Os direitos das mulheres sob
uma análise crítica civilista e as consequências da pandemia sob as vítimas de
violência doméstica”, seu objetivo é “informar as próprias mulheres sobre seus
os direitos e como foram conquistados”, assim como, fazê-las se sentirem
seguras diante ao ordenamento jurídico.
“Primeiramente,
todas precisam estar cientes de que a violência doméstica, assim como a
violência contra a mulher, não se resume em agressão física. Há o assédio,
violência psicológica, relacionamento abusivo, violência pela internet, entre
outros, que devem ser denunciados e combatidos”, pontua a estudante da Toledo
Prudente.
O
acesso a informações relevantes, assim como, medidas de apoio, impulsionam as
vítimas a se sentirem seguras para pedir proteção e denunciar. Registros
da Polícia Civil apontam que no primeiro ano da pandemia houve o aumento de
5,6% no número de solicitações de medidas protetivas feitas pelas vítimas de
violência doméstica e familiar à Justiça paulista. Foram 47.017 pedidos feitos
por meio das delegacias físicas e on-line, entre abril de 2020 a março de 2021,
contra 44.513 pedidos feitos entre abril de 2019 e março de 2020.
Além disso, o Estado de São Paulo registrou 163.508 boletins de
ocorrência por crimes de violência doméstica e familiar contra mulheres em um
ano de pandemia contra a Covid-19.
Mas,
e quanto à punição aos agressores? A Lei Maria da Penha prevê prisão para
àquele que comete o crime de agressão contra a mulher, tendo como pena mínima
três meses de detenção.
A
aluna da Toledo Prudente, Maria Vitória Bossolani, do 8º termo de Direito,
trouxe à sua pesquisa o tema “A incidência da responsabilidade civil para o
agressor nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher”.
Para
ela, os danos causados pela violência precisam ser ressarcidos além da esfera
criminal. “Optei por essa pesquisa porque nos casos de violência contra a
mulher, o agressor responde criminalmente, porém, no âmbito civil detém-se o
dever de reparar o dano causado em virtude do ato ilícito cometido. Assim,
proporcionará a mulher o efetivo acesso à Justiça e usufruto da norma
constitucional que dispõe a assistência à família por parte do Estado”,
explica.
Maria
Vitória ressalta que, por meio de sua pesquisa, visa “deixar claro os trâmites
penais que podem ser usados na esfera civil para garantir o efetivo acesso à
Justiça no caso de mulheres vítimas de violência”.
Conforme a supervisora de Monografias/TC da
Toledo Prudente, Carla Destro, cada vez mais a violência contra as
mulheres tem sido tema de pesquisas das alunas da instituição, ainda mais com a
alta considerável dos casos nesse período de pandemia.
“As alunas estão cada vez mais envolvidas com temáticas
feministas, principalmente aquelas envolvendo violência doméstica, estupro,
aborto e feminicídio. Por meio dos estudos, além de tratar o assunto, elas
também questionam o sistema atual e cobram soluções. A pandemia ‘trancou’
mulheres e agressores dentro de casa. Dessa forma, sem a possibilidade de sair,
as vítimas tiveram as alternativas para pedir ajuda reduzidas”, salienta.
Muitas outras pesquisas também tiveram destaque e repercussão na Toledo Prudente, entre elas:
“A imprescritibilidade do crime de estupro como meio de combate à violência
sexual contra a mulher”, de autoria de Beatriz Gimenes de Carvalho, e “A
Defensoria Pública como mecanismo de defesa do direito das mulheres”, de
autoria de Maria Eduarda Rezende Galhardo.
Alta
nos casos
O
alerta na alta de casos de violência contra a mulher, além de expressar uma
triste realidade, pode também ser o início da demonstração de luta em prol às denúncias, já que
antes, muitas vítimas, mesmo diante há anos de agressões, não se sentiam
seguras em recorrer à polícia e à Justiça.
“Atualmente, diversas campanhas e ferramentas foram
difundidas nas redes sociais e públicas para conscientização dos direitos das
mulheres e das alternativas fáticas e legais para superar a violência,
garantindo o encorajamento para romper a barreira do silêncio e denunciar. Entres
os exemplos estão as ações do ‘batom vermelho’, ‘botão do pânico’, assim como
os cursos promovidos para capacitação dos policiais que trabalham e recepcionam
as denúncias” explica a delegada do Deinter 8 e de Defesa da Mulher do
Município de Rancharia, Adriana Pavarina Franco.
Como
denunciar
A Polícia Civil de São Paulo oferece o atendimento presencial e on-line para
vítimas de violência doméstica e familiar. O atendimento virtual ocorre
na Delegacia Eletrônica.
As
vítimas também podem acionar a Polícia Militar, pelo 190, e o Disque-denúncia
pelo 180.