Opinião

Nova era na Psicoterapia?

21/03/2024

Essa semana li, uma matéria do site Exame, sobre as Inteligências Artificias (IA’s) e a psicoterapia. Com isso, podemos questionar: qual o futuro da atuação do psicólogo em um mundo estimulado por esse recurso? As IA’s não abarcam a totalidade e especificidades dessa área de atuação, isso porque o que permeia as sessões de psicoterapia é o material humano em toda sua amplitude: o sujeito humano e os acontecimentos humanos; ora, como falar de assuntos humanos para um outro não humano? É possível conseguir captar o dito, mas não os instrumentos de observação e condução de tratamento, restrito ao psicólogo. O significado ‘mais verdadeiro’ do conteúdo psicoterápico está escamoteado/metaforizado; a fala do paciente é obscura, precisa ser entendida não somente por seu conteúdo explícito, mas o que há por trás dele. São significações que devem ser pensadas para além de um modo referencialista que as IA’s funcionam. Não é uma tarefa fácil acessar os meandros do psiquismo humano e como esse se articula com o adoecimento psíquico, tampouco empreender significados a palavra somente dita. Existem vias de acesso para os discursos do paciente que por vezes são opacos, enigmáticos, sinuosos, escorregadios. O psicólogo se constrói próximo ao lugar da angústia do paciente, ao sintoma, pois testemunha no consultório tudo que o sujeito traz sobre si e a ótica que tem de si. As mídias sociais tornaram-se uma importante ferramenta para a realização dos atendimentos psicoterápicos de fato, mas de modo algum as IA’s ocupam o lugar do profissional de psicologia. A relação terapêutica não é estabelecida com a IA, como perguntar – segundo Mia Couto -: “- Dói-te alguma coisa? - Dói-me a vida, doutor”? Como compreender a resposta a ‘vida’? As IA’s não compreendem! A tarefa impossível para essas é investigar as palavras/pensamentos/sintomas do sujeito a ponto de conseguir alcançar o mais profundo do sintoma e a mais íntima das dores. A nova era da psicoterapia é o profissional de PSICOLOGIA, a fim de “alcançar os murmúrios das águas nas folhas da árvores”, agora e sempre.

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Angelo Luiz Ferro

Angelo Luiz Ferro é psicólogo, formado pela UFMS. Mestre em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFMS. Coordenador e docente do curso de Psicologia da Toledo Prudente, integrante do Laboratório de Pesquisas Avançadas em Psicanálise e Subjetividade (LAPSU), vinculado à PUC-Rio e do Laboratório Interunidades de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise (LATESFIP), vinculado à USP. Possui artigos, capítulos e livros publicados na área da Psicologia. Além da área da pesquisa e docência, atua na Psicologia Clínica.