Opinião

Notas sobre a esperança

11/01/2023

Vivemos, nos últimos anos, uma crise não apenas sanitária, mas também política, social e econômica. Mortes, perdas, necessidade de adaptar formas de trabalho, de locomoção, de comunicação e de relação. Experienciamos uma profusão de afetos diante das perdas dos nossos, diante da banalização da morte operada por alguns, diante do negacionismo dirigido à ciência. Sentimos medo, dor e desespero, mas resistimos aqui e ali e, de algum modo, sobrevivemos.


A humanidade não deveria precisar passar por situações tão graves como uma pandemia para aprender e se transformar. O saldo do que vivenciamos, e do que ainda estamos experienciando, é intensamente negativo: aquelas vidas interrompidas não voltarão, e não há como regressar ao passado e mover as estruturas de poder para que as vacinas cheguem aos nossos braços mais cedo, como poderia ter sido. A tragédia, quando banalizada, ganha proporções muitíssimo piores. Alguns assistem de camarote.


Tivemos que lidar com o abismo de um modo inesperado. Não que o inesperado não faça parte de nossas vidas; sim, ele embala toda a nossa trajetória existencial. Todavia, o caos instalado na realidade política-social-econômica brasileira nos últimos anos nos colocou frente a frente com o abismo, num cenário tomado por estilhaços e atravessado por ventos fortes e unidirecionais. Com os pés fincados nas nossas origens, mantemo-nos firmes, demos alguns passos para trás, para o lado e criamos fendas e possibilidade de resistir.


O hoje e o amanhã nos convida a outros horizontes e a outros movimentos. Neles, haverá indubitavelmente desafios e inesperados. Mas agora é tempo de abrir outras rotas, de costurar colaborativamente outros caminhos, de (co)criar outros espaços e encontros, de forjar pontes que possibilitem a efetivação dos direitos de todas as pessoas, de (re)inventar a potência coletiva que (r)existe em nós.


A caminhada é incessante. Que a esperança nos acompanhe. Vamos?

Autor (a):
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Aline Daniele Hoepers

Doutora, mestra e graduada em Psicologia; possui especialização em Proteção Social; atua como psicóloga judiciária (CRP 06/145342); tem percurso de atuação profissional em políticas públicas, clínica e sistema de justiça; e é docente do curso de Psicologia da Toledo Prudente Centro Universitário.