Opinião
Ciência, meio ambiente e sociedade
14/02/2022
O negacionismo científico que a sociedade experimentou na área da saúde, no enfrentamento à Covid-19, é um velho conhecido na área ambiental.
Aqueles que trabalham na defesa do meio ambiente já estão acostumados a ouvir reclamações sobre a rigidez das normas ambientais, questionamentos sobre a eficácia de certas proibições e, até mesmo, narrativas falsas que atribuem a existência de regras ambientais a supostas conspirações internacionais contra o progresso econômico.
As sociedades humanas evoluem, cada qual ao seu modo, de acordo com as diretrizes e princípios que embasam suas decisões.
As sociedades contemporâneas existentes na grande maioria dos países ocidentais desenvolveram-se, predominantemente, com base nas revelações das ciências.
A ciência, em linhas gerais, é o conjunto de métodos organizados de modo inteligente para provar ou refutar hipóteses. Assim, os métodos científicos são capazes de demonstrar se uma ideia pode ou não ser verdadeira. A partir disso, tomamos nossas decisões, cientes daquilo que estamos escolhendo.
E, nesse aspecto, não há escapatória: a ciência observa uma característica inafastável da realidade, a causalidade.
Se adotamos a alternativa A, temos o efeito B. Essa relação de causalidade é frequentemente demonstrada pela ciência.
O desmatamento, a poluição das águas, o crescimento desordenado dos espaços urbanos, a liberação de gases poluentes, o descarte irregular de resíduos sólidos, tudo isso acarreta consequências graves, que destroem o habitat das espécies e, em última análise, da própria humanidade.
O homem pode até desprezar a revelação da ciência, mas logo terá de lidar com as consequências (os efeitos) de suas escolhas.
Desmatamento gera crise hídrica, gases poluentes aquecem o planeta, resíduos sólidos contaminam solo e águas, e assim por diante.
A sociedade pode até negar a ciência nas suas escolhas, mas não poderá afastar as consequências desses atos. Ao contrário, será necessário mais investimento em ciência na árdua tarefa de corrigir ou reverter os danos causados por escolhas erradas.
Só há um remédio contra a negação da ciência: mais ciência.
Autor (a):
Gabriel Lino de Paula Pires
Doutor em Direito do Estado pela USP (Universidade de São Paulo), promotor de Justiça e professor do curso de Direito da Toledo Prudente Centro Universitário.