Opinião
As cidades, as trocas e os encontros...
08/04/2021
Muito nos questionamos sobre a vida urbana pós pandemia. O que daquilo que conhecíamos irá se manter e quais serão as alterações mais significativas, são pensamentos que fazem parte de nossas indagações. O que sabemos, por hora, é que os impactos nas populações mais pobres e menos assistidas são maiores e mais perversos.
As cidades, assim como as conhecemos hoje, tiveram sua origem naquelas aldeias mais populosas, onde encontros e trocas comerciais começaram a ocorrer com mais intensidade a cerca de 3500 a.C. Naquele momento, a proximidade com as águas era necessária para que fosse possível a cultura de alimentos para o abastecimento da população bem como produção de excedentes que serviriam como permuta.
Séculos se passaram e, aos poucos, essa sociedade que se fortalecia a partir da cooperação começou a se estratificar em classes sociais, distintas tanto economicamente assim como também em relação aos papeis que desempenhavam, ao ponto de chegarmos, nos dias de hoje, a uma realidade de muita desigualdade, intolerância e conflitos generalizados.
A pandemia intensificou essas desigualdades com claros reflexos na forma como utilizamos o espaço das cidades.
É possível vermos que aqueles que possuem uma qualificação maior conseguem realizar suas atividades por meio do home office, entretanto, a maior parte da população ainda precisa se deslocar até os espaços de trabalho enfrentando os meios de transportes públicos lotados bem como os riscos da falta de distanciamento.
Essa nova forma de trabalho para alguns, impacta a dinâmica espacial das cidades e pode incentivar que surjam novas centralidades e novas formas de cotidianidade com o fortalecimento das relações de vizinhança e o senso de comunidade.
O uso dos espaços públicos também passa por mudanças. Esse que é por excelência o local dos encontros, em tempos de pandemia passou a ser utilizado por poucos ou, ainda, teve seu uso ressignificado. Enquanto alguns possuem condições de lazer e descanso nas próprias residências outros, vivem em moradias reduzidas, em locais sem acesso a saneamento básico e a equipamentos públicos que possibilitem práticas desportivas.
Nesse cenário de desigualdades, os arquitetos e urbanistas, assim como os planejadores urbanos, precisam agora não só se debruçar nas pranchetas mas, também, sair a campo a fim de redesenhar e repensar os espaços, de forma a garantir que a participação das pessoas em conjunto com a técnica, sejam caminhos para as nossas cidades, em um futuro desejado, mais humano, mais justo, mais acessível com a recuperação da cooperação e a unidade há muito perdida. Cidades onde as trocas, os encontros e as gentilezas sejam parte da rotina!
Autor (a):
Julia Fernandes Guimarães Pereira
Arquiteta e urbanista, mestre em Arquitetura e Urbanismo, doutoranda em Planejamento e Gestão do Território e coordenadora de área dos cursos de Engenharias e Arquitetura da Toledo Prudente Centro Universitário.